terça-feira, 5 de abril de 2011

A mulher que reinventou a Alta Noroeste

Amanda Monzani
Letícia Mazarini



Odette Costa em honraria na AAL
Jornalismo atrelado à vida social araçatubense, adicionado a aulas de línguas estrangeiras e aos domínios da forma culta da língua na escrita. Esses eram os ingredientes principais da receita do bolo da vida de Odette Costa Bodstein. Dona de uma das personalidades mais importantes e influentes de Araçatuba, ela foi responsável pela criação da vida social araçatubense, sempre trazendo à tona os eventos que fizeram Araçatuba se tornar uma cidade de pompa. É considerada a colunista social mais antiga do Brasil, bandeira pela qual militou durante mais de 50 anos.

Filha de Joaquim da Costa Gomes e Carlota Ferreira Coutinho, Odette nasceu em 27 de maio de 1927. Poliglota, ensinava alemão, italiano, francês e espanhol. Concursada na rede estadual de ensino, lecionava português. Entre as escolas que atuou, estão o IE “Manuel B. da Cruz” e José Cândido. Odette possuía pulso firme e rigidez singular em sala de aula.

Os amigos comentam que ela tinha uma personalidade forte, insistente, metódica, preocupada e culta. A jornalista possuía um dom: liderança. Com oratória privilegiada, era sempre convidada a ser mestre de cerimônias dos desfiles de 7 de setembro e 2 de dezembro. Poucos sabiam tão bem interpretar e explicar os significados de cada alegoria que compunha o desfile. Apresentou, durante quatro anos, um programa feminino nas rádios Difusora e Cultura.

Casou-se, aos 31 anos, com o também professor Almir Jorge Bodstein. Apesar de não ter tido filhos, o casal possuía muitos afilhados. Um deles é a também jornalista, advogada e poetisa Cecília Ferreira. Ela conta que Odette reinventou o jeito de viver e de fazer os eventos “acontecerem”.

COLUNISMO SOCIAL

Odette transformou o que era corriqueiro em algo importante. Com matérias que faziam uma verdadeira reconstituição da festa, Odette se tornou querida, respeitada e única.

Em 1953, a colunista iniciava sua carreira de jornalista, com 26 anos de idade, no jornal “O Labor”, de Mirandópolis. Tempos depois, passou a escrever artigos para a revista “Cadência”, de Araçatuba. Nesta época, o colunismo social não era conhecido na cidade e na região.

Mais tarde, Odette voltou para os jornais “A Comarca” e “Tribuna da Noroeste”, onde instituiu de fato o colunismo social. Ela contava com a ajuda do amigo Paulo Nemoto para o registro das imagens. Posteriormente, com a digitalização das máquinas, passou a fazê-lo sozinha. Quem conta é o advogado, professor universitário e jornalista Jorge Napoleão Xavier.

Com ele, Odette formou uma famosa dupla de colunistas sociais. Jorge Napoleão conta que, por vezes, Odette escrevia suas anotações em guardanapos de papel das festas, os quais ela guardava para a elaboração da matéria.

A jornalista ingressou na Folha da Região em 1992, onde prestou serviços por 14 anos. Uma peculiaridade: ela nunca frequentou redações, ela enviava o texto já pronto.

O GRANDE FEITO

Detalhe: Odette se tornou a primeira mulher rotariana do Brasil e da América Latina. Em parceria com o professor Célio Pinheiro, na década de 90, a jornalista idealizou o primeiro projeto referente à literatura de Araçatuba. Reunindo, Odette deu início à Academia Araçatubense de Letras. Posteriormente, viria a presidi-la por duas vezes.

Também criou a bandeira da AAL e o traje de gala usado pelos acadêmicos em cerimônias de nomeação. Também em parceria com Célio Pinheiro, escreveu o livro “História de Araçatuba”. Sozinha, Odette publicou a obra “Focalizando”, que trazia relatos das principais personalidades araçatubenses, entre eles o industrial “rei da carne” dos anos 50 e 60, Sebastião Ferreira Maio, o “Tião Maia”.

PARTIDA

Em 15 de julho de 2006, Odette sofreu uma insuficiência respiratória. Levada às pressas para a Santa Casa, foi socorrida com um quadro de hipoxenia (falta de oxigênio no cérebro). Na UTI, permaneceu em coma por 40 dias, respirando com a ajuda de aparelhos.

A tarde cinzenta daquela quinta-feira, 24 de agosto de 2006, anunciava o luto em Araçatuba, pois acabava de falecer Odette Costa Bodstein. A correria que antecedia a entrada triunfal nos bailes da Primavera, ao som da valsa vienense, jamais seria vista novamente na cidade, apenas a lembrança da mulher que passaria, a partir de então, a fazer parte da história de Araçatuba. Odette partiu para escrever para os anjos.

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