sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Tendências em televisão digital são tema de palestra

Pesquisadora se mostra cética diante da possibilidade de avanço em TV Digital no Brasil

André Sanches
Diuân Feltrin
Jean Fronho
Ricardo Moreira

As tendências em TV Digital bem como as dificuldades para a implantação efetiva no Brasil foram temas discutidos pela pesquisadora graduada em Rádio e TV pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru, Letícia Passos Affini, durante a 10ª Secomt (Semana de Comunicação Toledo.

Em um bate-papo com os alunos do curso de Jornalismo no dia 7 de outubro, a doutora em TV Digital discorreu sobre as características do modelo tecnológico implantado no Brasil, ressaltando as dificuldades inerentes. Para ela, o principal empecilho para a total migração do modelo analógico para o digital está no alto custo a ser pago pelo cidadão comum. “Se quiser ter TV Digital em casa, a pessoa precisa assinar TV paga e comprar um conversor”, ressaltou.

Durante a conversa, Letícia apresentou as principais diferenças entre o sistema analógico e o digital, dando foco nos quesitos portabilidade e produção de conteúdo pelos próprios telespectadores. Sua atual pesquisa denominada “TV Digital: ficção seriada na era da interatividade, mobilidade e portabilidade” consiste precisamente em desenvolver métodos para a produção de conteúdo para dispositivos móveis.

Além do elevado custo, Letícia também relatou outros agravantes que dificultam a adesão à TV Digital no Brasil, sendo que o principal deles é a falta de inovação. “Ainda não há investimentos em interatividade, o sinal é unidirecional, o conteúdo produzido pelas empresas não modificou. O que tivemos foram apenas mudanças na qualidade da imagem transmitida. O restante continua igual”.

Em entrevista concedida ao blog do curso de Jornalismo, Letícia Passos Affini detalha as peculiaridades relacionadas a TV Digital no Brasil.

A TV Digital é uma realidade que vem se fortalecendo no Brasil. Dentro deste modelo de transição, está a portabilidade. Qual é a importância disso no que diz respeito à realidade brasileira?
Assim como gosta de cerveja e futebol, o povo brasileiro gosta muito de TV. O fato de assistir TV portátil vai aumentar a audiência. Na minha pesquisa, nós estamos desenvolvendo novas grades de programação específicas para dispositivos móveis, de modo a atrair audiência para este segmento.

A digitalização mostra uma nova forma de assistir TV. Em termos audiovisuais, o que melhora com a TV digital?
A produção ainda é extremamente cara. Mas, um dos benefícios trazidos pela TV Digital é o fato de as pessoas poderem produzir conteúdo, assim como já fazem em mídias como o popular Youtube.

A TV digital é feita para camadas sociais mais elevadas, correto? Quanto à acessibilidade, ela não alcançaria a classe D e E. Isso é uma realidade aqui no Brasil?
O valor de R$ 100 defendido pelo ministro é ilusório. Tanto é que ele mesmo já desmentiu, dizendo que não seria possível fazer. O próprio presidente Lula também concluiu que é impossível. O conversor barato não traz benefícios. Ele somente transforma o sinal em digital, pura e simplesmente isso. Conversores que podem gravar e que tenham níveis de interação são caríssimos, em torno de R$ 1.200, sem contar os impostos.

Então, a TV digital no Brasil limita-se a um sinal de transmissão bom?
Sim, áudio e vídeo em alta definição, de 1.080 linhas. É alta resolução. Já o sinal de televisão analógico tem apenas 525 linhas. É lindo você vê tudo o que aparece. É incrivelmente bonito. Mas infelizmente, a curto prazo, a TV digital não vai funcionar porque não tem o canal de retorno. Aí a pessoa deverá recorrer à internet. É muito mais barato colocar uma antena de internet geral. Tem cidades pequenas que fizeram isso. Põe uma antena que possibilita internet para todos na cidade.

Devido a sua incipiência no Brasil, a TV digital gera inúmeras possibilidades de pesquisas em diversas áreas. Como está o mercado de pesquisas em TV Digital?
As pesquisas na área podem prever as possibilidades para a TV Digital, inclusive no que tange à interatividade. Os estudos estão sendo dirigidos nesse sentido. Existem muitas pesquisa de governo, inclusive para possibilitar o acesso de deficientes visuais à TV Digital. Porém, quem irá definir as maiores pesquisas é o modelo de negócio, pois através dos negócios é que as contas são pagas. Esse é o grande problema que impede o avanço da televisão digital no Brasil. As pesquisas devem pensar também em merchandising, porque nenhum modelo de televisão sobrevive sem anúncios.

Como fica o trabalho do jornalista de televisão nesta nova realidade?
As coisas estão mudando e essas mudanças não serão rápidas. As mídias de massa jamais deixarão de existir. Não será uma mudança brusca para o segmento jornalístico.

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