terça-feira, 3 de agosto de 2010

Amor à profissão sem segunda opção

Arquivo grupo

O bom jornalismo deve ser feito independente do tamanho do veículo, e dessa responsabilidade Patrícia não abre mão

Elissa Moreli
Suéllen Rosim

Ela é jornalista e editora-chefe da TV Tem, afiliada da rede Globo em Araçatuba. Nascida em Bauru e criada na Baixada Santista, na sua infância sua maior companheira era uma “babá eletrônica”, a televisão. Com 13 anos de profissão, Patrícia Machado, 35, já trabalhou na mídia impressa e em rádio. Para ocupar o reconhecido cargo, a jornalista percorreu um longo caminho.

Quando foi que decidiu pelo jornalismo?
Fui uma típica criança de apartamento, que vivia na frente da televisão. Um dia perguntei para minha mãe o que tinha que fazer para trabalhar na TV e ela disse que eu deveria fazer jornalismo, então decidi que seria jornalista. Eu tinha sete anos quando vi uma reportagem muito bonita no Jornal Nacional sobre a seca do Nordeste. Pensei: que interessante, o repórter pode ir a vários lugares e mostrar coisas diferentes, foi aí que tive certeza.

Você se formou na Unesp de Bauru. Quando saiu da universidade sentiu privilégios no mercado por ter estudado em uma instituição pública?
Não existe essa diferença no mercado. A vantagem da universidade pública é o fato de ser gratuita, você poder estudar sem se preocupar em pagar nada. Tive professores muito bem preparados, principalmente de matérias como Sociologia, Filosofia, Linguística, que eram doutores. Pesquisadores que talvez eu não teria oportunidade de conhecer em uma faculdade particular. Mas no mercado ninguém pergunta onde você se formou, só quer saber se você tem experiência. O meu estágio durante a faculdade foi mais importante do que o nome da universidade.

Quais são as maiores dificuldades que você encontrou para atuar na área?
É uma área bastante saturada. Tem muita gente boa no mercado e a concorrência é cruel. Conseguir a primeira oportunidade é a principal dificuldade. Fiquei quase um ano desempregada depois de formada e cheguei a pagar para trabalhar. Minha mãe mandava uma mesada para completar meus gastos, já que eu não conseguiria me manter em Araçatuba só com meu salário. Foi um investimento a longo prazo.

São incontáveis as pessoas que sonham em trabalhar na Globo e entre elas milhares de estudantes de jornalismo. Como você lida com o fato de pertencer ao maior veículo de comunicação do Brasil?
Todo trabalho é importante. Sempre procurei dar o melhor de mim e chegar à TV Tem foi o reconhecimento de um trabalho de muitos anos. Fui convidada a assumir o cargo e isso é motivo de orgulho. Se a responsabilidade pesa? Sim, pois se eu erro tem uma repercussão muito maior. Mas, sempre fui cuidadosa com a informação, não importando se estava escrevendo para o jornal do bairro ou para o Tem Notícias. Não podemos ter menos dedicação quando trabalhamos para um jornal pequeno ou uma emissora de menor audiência, pois cada leitor e telespectador merecem respeito. Além disso, se o trabalho é descuidado em um veículo pequeno, nunca se chega ao de maior alcance.

Quais os maiores desafios da profissão?
O grande desafio é chegar à verdade de cada história. Mas esse desafio passa por conseguir as notícias antes da concorrência, encontrar bons personagens, fazer imagens variadas e boas entrevistas. É um desafio diário, constante e que não termina nunca.

Quais os maiores desafios de ser uma editora-chefe?
O grande desafio não está relacionado ao exercício do jornalismo, mas à administração das pessoas. O mais difícil é manter a equipe motivada e gerenciar os conflitos entre os colegas, que são inevitáveis. Vivemos debaixo de um grande estresse e isso, muitas vezes, deixa as pessoas com os nervos à flor da pele. Lidar com toda essa tensão é o mais difícil.

Como separar a obrigação de expor os problemas da vida das pessoas e não ser um carrasco, isso é possível?
Procuramos a verdade, damos a voz aos dois lados, procuramos ser imparciais. Esse é o único caminho para não cometer injustiças.

Se não fosse jornalista, o que seria?
Jornalista! Quando prestei vestibular nem me passava pela cabeça a idéia de fazer outra coisa, tanto que não coloquei segunda opção em nenhuma das inscrições para as provas. Eu deixava os espaços em branco e o pessoal falava: “moça, você se esqueceu de colocar a segunda opção. E eu respondia que não tinha esquecido,” porque não havia segunda opção. O jornalismo tem a vantagem de nos remeter a outras realidades e conhecer outras profissões. Acompanhamos o trabalho de policiais, paramédicos e descobertas científicas, por exemplo. Só o jornalismo permite que a gente tenha contato com tantos universos diferentes.

Qual profissional de jornalismo você admira no meio televisivo?
Marília Gabriela sempre foi a minha inspiração. Eu admiro o trabalho feito pelo Marcelo Tas, que mistura humor e jornalismo de primeira qualidade. Dos globais sou fã, sem dúvida nenhuma, do Willian Bonner.

Você trabalhou como repórter por um tempo, e hoje seu trabalho é todo feito por trás das câmeras. Prefere o anonimato ou a fama de "aparecer na TV"?
Creio que tenho mais talento para os bastidores, o trabalho de organizar um jornal, pensar as reportagens, editar textos, produzir. Sempre sonhei em ser reconhecida no meio profissional, ser o nome que passa por último na ficha técnica (risos). Por isso sempre procurei o trabalho de bastidor e passei para a edição na primeira oportunidade. Eu prefiro estar por trás das câmeras.

O que gosta de fazer nas horas vagas?
Horas vagas? O que é isso? Estou exagerando, mas tenho realmente muito pouco tempo livre. Trabalho entre dez e doze horas por dia e quando estou em casa acabo assistindo a jornais ou navegando na internet. Também sou membro de uma igreja evangélica e procuro dedicar o tempo livre às atividades da igreja, como cultos e estudos bíblicos. Também gosto de sair para comer um bom cupim, tipicamente araçatubense.

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