“Você quer ganhar dinheiro? Não seja jornalista. Você gosta de saber, de falar, de conhecer e explicar, de absorver e repassar? Então seja jornalista.”
Nelson Junior é formado em jornalismo, mas atua na área desde muito jovem. Em 15 anos de profissão, ele afirma gostar do que faz, mas não espera grande retribuição financeira. Após trabalhar em rádio e jornal impresso, hoje é repórter e apresentador de televisão. Ele contou os doces e amargos que experimentou do ofício que define como uma cachaça.
Como começou sua carreira no jornalismo?
Comecei na Rádio Urubupungá, em Andradina, como técnico de áudio, ou seja, por um lado que não era o jornalismo. Depois de dois anos, fui transferido para o cargo de discotecário, pois naquela época ainda se usavam discos nas rádios. Após mais alguns anos surgiu a oportunidade para eu substituir um cara, mas só para falar horário. A diretora, que era filha do proprietário, gostou da minha voz e pediu para eu gravar um piloto. O primeiro ficou ruim, mas nos outros eu fui melhorando até que me convidaram para fazer um programa de música sertaneja.
E o programa deu certo?
Não. Durou apenas dois meses e então voltei para a parte técnica. Depois saí de Andradina e vim para Araçatuba, onde comecei a trabalhar na Rádio Cultura. Passei a ter contato com um jornalista chamado Biro-Biro, sendo aprendiz dele e fazendo entrevista gravada. Ele tinha um programa policial e minha função era ir às delegacias, entrevistar policiais e acusados de casos que aconteciam após o término do programa. Foi bom para o meu aprendizado, até porque era tudo gravado.
Como foi sua primeira participação ao vivo?
Foi em um programa policial apresentado pelo Biro-Biro. Eu vi uma rebelião na antiga cadeia de Araçatuba que era perto da Câmara. Liguei para a rádio e participei ao vivo. O mais interessante é que minha mãe, que também é jornalista, apresentava um programa chamado “Bom Dia Araçatuba”, e que ia ao ar no mesmo horário do programa do Biro-Biro e pela mesma rádio. A diferença é que a dela era FM, a dele AM. Desse dia em diante, passei a participar ao vivo com frequência no programa.
Como você começou no meio televisivo?
Antes de entrar na TV ainda passei por várias rádios, entreguei panfletos, trabalhei em jornal impresso. Após ficar um ano desempregado, comecei na TVI como estagiário. Fazia serviços básicos de rotina de uma redação e sempre que havia uma oportunidade eu ia para a rua fazer matéria.
Nessa época você já fazia faculdade de jornalismo?
Comecei a fazer depois que eu já tinha entrado na TVI. Na época não havia faculdade de jornalismo e eu fazia publicidade. Quando eu estava no segundo ano abriu o curso de jornalismo e eu entrei. Naquele tempo não tinha problema em ser registrado na área porque não era obrigatória a realização de estágio. Eu também já tinha o MTB, que tirei quando ainda trabalhava na rádio. Enfim, me formei enquanto trabalhava na TV e fui cada vez mais me firmando como repórter.
E sua experiência no meio impresso?
Isso foi antes da TV. Eu tinha uma dificuldade muito grande porque cometia muitos erros de português. Além do mais, não é fácil escrever textos tanto para impresso quanto pra TV porque, além da ortografia, tem de colocar tudo na estrutura. As pessoas me falavam em lead, sub-lead, box, retranca e para mim que não havia feito faculdade, isso era muito complicado de entender.
Como cada mídia contribuiu para sua formação?
O rádio me ajudou em muito do que faço hoje, porque me deu muita facilidade pra falar. O impresso me ajudou na escrita, principalmente na pontuação e respiração. Na TV a gente escreve um texto mais didático, para qualquer um entender, desde um trabalhador da roça até um juiz. O jornal impresso já é meio elitizado, digamos, da classe C pra cima, mas mesmo assim, deve haver a preocupação para que o texto não se torne cansativo.
O que significa o jornalismo pra você?
Mesmo com 13 anos da TV, não me considero um experiente. Aprendo todo dia. Quando saio pra rua, pra fazer qualquer matéria que seja, aprendo com qualquer pessoa: do mais ignorante ao mais inteligente. E a TV é legal porque atrai todo tipo de gente e elas são bem sinceras ao falar o que acham de você. O jornalismo é um aprendizado eterno, independente de como seja a pessoa.
De que modo, por exemplo, ocorre esse aprendizado?
É um conhecimento vivo. Na entrevista, por exemplo. Mesmo que você entreviste alguém preparado, muitas vezes a pessoa não dá uma resposta que vá te ajudar muito. Uma resposta ruim pode inibir todas as outras perguntas. É ai que você aprende. Da outra vez que você for entrevistar, você consegue obter melhor as respostas.
Você conseguiria fazer outra coisa que não fosse o jornalismo?
Conseguiria sim. Hoje, com esposa e filhos, até planejo fazer outras coisas. Até porque já comecei no jornalismo tendo antes feito outras coisas. E com muita gente é assim. Isso porque o jornalismo é muito limitado financeiramente falando, tanto para o empregado quanto para o empregador. Também não há muito espaço. É uma profissão que rende uma vida de cigano, pois se a pessoa não se dá bem no lugar, só mudando de cidade. E como envolve formação de opinião, envolve interesses políticos e econômicos.
E o idealismo?
Não acho que ele deva ser abandonado, mas com o tempo as pessoas mudam muito. Já vi muito sonho nascer, crescer e morrer. Tanto para quem é patrão, quanto para quem é empregado, não da para ser muito idealista.
Qual foi o momento mais difícil de sua carreira?
O mais difícil é se manter empregado, trabalhando. Aparece muita gente nova, competente, inteligente e o mercado é ingrato com essas pessoas, deixa permanecer pessoas menos interessadas, menos competentes. O mercado não sabe reconhecer essa mão-de-obra nova e muitas vezes não sabe reconhecer a mão-de-obra que tem. Você sempre tem a possibilidade de perder seu trabalho para alguém que está começando, que chega cheio de garra.
Qual a mensagem que você deixa para quem está começando na carreira jornalística?
Faça ou faça. Goste ou goste. O jornalismo é como um vício, uma cachaça. Se tiver dúvidas não serve para ser jornalista. Não sabe se gosta? Não seja jornalista. Você quer aparecer? Não seja jornalista. Você quer ganhar dinheiro? Não seja jornalista. Você gosta de saber, de falar, de conhecer e explicar, de absorver e repassar? Então seja jornalista. Sem desejar nada mais do que isso, apenas ser um reprodutor de informações. Se não, você será uma pessoa frustrada pelo resto da vida.
Não deixe de ler a próxima entrevista da galera do oitavo semestre de Jornalismo. Imperdível: entrevista com o jornalista Antônio Crispim, feita pelos alunos Paula Senche e Carlos Teixeira.
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