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Paula Senche
Carlos TeixeiraMudanças tecnológicas facilitaram a vida de quem trabalha na área, mas exige mais responsabilidade dos profissionais
O jornalista Antonio Crispim, editor-chefe do jornal O Liberal Regional de Araçatuba, faz uma análise do jornalismo, levando em consideração as revoluções tecnológicas e as mudanças de comportamento dos profissionais, face aos novos desafios. Na entrevista ele destacou aspectos como ética, responsabilidade e futuro da profissão. Sobre o fim do diploma, ele é taxativo: mais cedo ou mais tarde a situação anterior, de obrigatoriedade do documento, vai voltar a valer.
Como foi a sua escolha pela profissão de jornalista?
Eu tenho um irmão 10 anos mais velho que eu que é jornalista. O jornal começou a chegar em minha casa muito cedo. Então você desperta para a necessidade da informação muito cedo. Por acaso eu entrei em rádio. Do rádio para o jornal foi um passo e isso já vai completar 30 anos.
Esse começo, passando do rádio para jornal, foi difícil. Quais foram as dificuldades do início da profissão?
Eu sempre gostei muito de ler. Desde os sete ou oito anos, quando eu li meu primeiro livro (Meu Pé de Laranja Lima). Quem lê muito tem muita facilidade para escrever. Então eu sempre gostei de escrever. Sempre tive boas notas em redação. E ao passar do rádio para o jornal eu tive que aprender as técnicas de redação. De como levar a informação. Uma coisa é você contar a informação no rádio. Outra coisa é você transcrever essa informação para o leitor. Essa foi uma adaptação. Mas não foi difícil não. Difícil era a gente buscar a informação.
Quais foram as dificuldades técnicas?
Como qualquer jornalista do interior nós enfrentamos mil dificuldades. Dificuldades de acesso, de informação e quando eu entrei na profissão, o Brasil vivia um período muito negro da sua história. Era o auge da repressão. Então tudo era proibido. Você tinha que tomar cuidado com o que iria falar. Você era proibido de divulgar a palavra maconha. Era uma apreensão de drogas, não importava do que era. Você era proibido de divulgar o valor da apreensão, que era para não estimular os traficantes. Mas você tinha que driblar isso e cumprir seu papel. Talvez não conseguíssemos cumprir na plenitude, nos 100%, mas um pouco que você fizesse já era melhor do que nada. Então esse era o grande desafio.
Você passou algum medo no começo?
Passei. Eu passei muito medo nos anos 80, no Bico de Papagaio, no Pará. Na época estava violenta a questão agrária, o conflito de terra era muito forte. Matava-se gente quase que diariamente e eu cheguei a ser ameaçado por um cabo da PM e passei medo, muito medo. Quem trabalha em grandes centros é outra estrutura. Quem trabalha no interior é muito visado. Aqui em Araçatuba, Andradina ou Birigui todo mundo conhece todo mundo. Então quando um repórter ou um jornalista faz seu trabalho ele se expõe muito perante a sociedade, o patrão, os concorrentes, ele se expõe mesmo e deve tomar cuidado
Em algum momento pensou em desistir?
Jamais, isso nunca. Desde quando entrei só fui me apaixonando. O que motiva até hoje é que, apesar do longo tempo, é que tem muito mais a ser feito.
Qual análise você faz do ontem para o hoje?
Tudo mudou. Nós mudamos, mudaram as ferramentas, mudou-se o mundo. O Brasil mudou e a própria sociedade, houve uma evolução social. O que era proibido há 10 ou 15 anos se não é permitido, é tolerável. Então o jornalista tem que acompanhar essa evolução. O jornalista não pode parar, (e talvez seja uma das poucas profissões que não pode parar) porque não é exata. O engenheiro sabe que a densidade do concreto para suportar determinado peso é X. O jornalista não. Ele mexe com as pessoas, os valores morais, éticos, com a formação. Ele tem que ter esse cuidado. Porque o que era amoral ou imoral há 20 anos hoje é rotina. Então se ele não souber acompanhar a evolução da própria sociedade, ele é superado rapidamente. Mas é com o exercício diário da cidadania, exercício diário da profissão que nós vamos sedimentar uma sociedade equilibrada.
Recentemente a categoria, a classe jornalística acabou chocada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal derrubando a exigência do diploma. Como é que você encara isso?
Eu ouvi tanta besteira, mas tanta besteira a respeito disso. Uma delas era de que teria que derrubar o diploma porque ele é antidemocrático. Idiotice. Não é um diploma que vai garantir a plenitude democrática. Longe disso. Nós temos aí países extremamente despóticos, totalitários e com grandes universidades. Isso não quer dizer que formação acadêmica tem a ver com democracia. Precisa de uma análise mais profunda. É muito superficial você falar que um país tem que abolir o diploma por questão democrática, é uma questão educacional. Eu costumo dizer que educação vem da família. A escola prepara, transfere conhecimento . Valores morais é formação familiar. Então eu acho que o diploma é necessário sim. O Brasil vai reverter isso aí. Hoje, amanhã ou num futuro não muito distante o Brasil vai reverter.
Você acha que em função dessa decisão, de não exigir mais o diploma a questão da ética é colocada em xeque, ou acaba provocando um tipo de prostituição do profissional?
A prostituição profissional, não só do jornalismo, mas de todas as outras profissões é uma questão de educação. De formação moral e ética familiar, de valores morais e religiosos, uma série de fatores. O que produz a prostituição é a briga do mercado de trabalho. Obviamente aqueles menos qualificados têm a tendência de se sujeitar a pressões políticas e econômicas mais do que os profissionais melhor qualificados. Mas a prostituição profissional é fruto da má remuneração predominante.
A gente tem tido várias noticias de jornalistas que tem problemas, ora porque são perseguidos por autoridades ou estão envolvidos em escândalos que eles estão tentando extorquir. Como você analisa essa situação envolvendo os jornalistas, as fontes, os empresários e os políticos?
Gilberto Dimenstein, que eu considero um dos maiores repórteres do Brasil, costumava dizer que o jornalista deve estar próximo da fonte para ser bem informado e distante o suficiente para não se contaminar. O que há na verdade é que muitas vezes a pessoa se aproxima tanto e se contamina. Então é muito difícil, como falamos agora apouco da questão salarial, da questão da prostituição, como um repórter que ganha um piso salarial de cinco horas de R$ 1.5 mil, conviver no meio político onde ele vê transações ilegais e desonestas de R$ 100, R$ 200, R$ 300 mil ou mais. Ele tem que ter uma tremenda formação para não querer participar do bolo.
Você conhece a jornalista Patrícia Machado? As alunas Elissa Moreli e Suéllen Rosin do último semesntre fizeram uma entrevista muito legal com ela. Logo você poderá conferir aqui no blog.
Você conhece a jornalista Patrícia Machado? As alunas Elissa Moreli e Suéllen Rosin do último semesntre fizeram uma entrevista muito legal com ela. Logo você poderá conferir aqui no blog.
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